quinta-feira, 23 de julho de 2009

Perdoa-me!

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Ganhei de Augusto Tavares. Ele disse que fez a poesia e em seguida pensou em mim:


Perdoa-me!

Já não falo em ti.

Perdoa-me!

Desaprendi a mentir

Dizer que te querias breve e urgente

era vício de minh’alma decadente


Acreditar que encontraria em ti acalanto

não diminuiu meu pranto.

Pensar que me consolarias

e porias fim aos meus problemas

foi resultado de um dilema inventado.


Perdoa-me!

Deixei de fugir

Desejar-te como um abrigo eterno

só me fez desviar do caminho que sempre quis

e ainda quero.


Perdoa-me os momentos em que te provoquei

desesperada e intensamente.

De certo eu não fingia,

mas estava perdido e impaciente.


Não penses que sou covarde

ou que temo o teu encontro.

Sei que um dia acontecerá

o inevitável confronto.

Mas terás que vir a mim

porque eu não te procurarei.


Perdoa-me morte,

hoje prefiro viver

e, quem sabe, nunca morrer

no coração de quem me amar.

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terça-feira, 7 de julho de 2009

Confiança

Justificar



Ainda ontem relembramos alguns de nossos caminhos, os mesmos que nos fizeram estar ontem comemorando sua mais recente conquista. Amiga Eduarda: vou falar sobre você. É que eu te admiro tanto, que não posso deixar de registrar isso.
Agora, agorinha, não consigo lembrar ao certo como ficamos amigas. E nem poderia, já que amizade é algo de conquista. Sei que com certeza te conheci na faculdade de jornalismo, num tempo em que nossa vida nem era ssim tão parecida…eu morava com o pai da minha filha mais velha e tinha (mais ou menos) toda aquela rotina de casada. Você era totalmente livre e seu compromisso era com você mesma. Mesmo assim nos afinamos. Quando dei por mim estávamos fazendo trabalhos juntas, estávamos conversando sobre nossas vidas, estávamos nos transformando em amigas.
Depois eu “virei” mãe e você continuou vivendo seus vinte anos. E como por ironia do destino, como se fosse para nosso vínculo não se perder, logo depois você também se tornou mãe. Tempos nada fáceis, e a gente lembra bem todos nossos conflitos. Ter vinte anos e já ser mãe. Ver sua vida começando entre fraldas e choros na madrugada. Ver que seu príncipe na verdade não passava de um ogro. Ver que aquela “escolha” não poderia ser mudada nunca. Ver que a única saída seria continuar e provar a si mesmo que seria capaz. Sim, para muitos que nos olhavam apenas de fora, éramos apenas duas loucas inconsequentes. Mal sabiam eles que estávamos vencendo a nós mesmas e nos tornando cada vez mais sábias e fortes, cada uma ao seu modo. Não havia tempo para arrependimento. O tempo era da ação. Dá pra contabilizar quantos aprendizados tiramos da nossa própria história? Enquanto os cães latiam, a caravana passava…
(Disse que ia falar sobre você, mas cá estou eu escrevendo no “nós”. Mas é que tenho você como referência em minha vida e é meio difícil nesse momento disassociar suas experiências das minhas.)
E lá foi você inventar de ter outro filho e dessa vez eu que acompanhei sua idéia. Nós duas, dois filhos, muitas dores e também muitas alegrias. Nesse ponto a vida se encarregou de separar temporariamente nossa convivência. De quase vizinhas, passamos cinco anos perdidas uma da outra. Mas sabíamos que nossa amizade não era poeira e nenhum vento levaria. Nos reencontramos com nossos filhos já crescidos e isso pôde ilustrar na prática o tanto de coisas que vivemos nesse intervalo. E percebemos que igualmente aos nossos filhos, nossa amizade também tinha crescido. Ela acompanhou nossa história. Não ficou parada no tempo apanhando ferrugem. Isso é raro! Tão quanto você! Mulher forte, decidida, guerreira, batalhadora. Mulher-mãe, sublime, amorosa, destemida. Mulher cheia de sentimentos bons, que sabe amar e por isso mesmo merece alguém cheio de precicados iguais ou pelo menos parecidos com os seus.
O tempo continua sendo o de fazer, mas nem por isso deixamos de sonhar.
E sonhos que podem se concretizar são os melhores (assim aprendemos). Por isso, ontem foi um dos dias mais felizes para mim. Pude estar aqui perto e ver um sonho seu virar algo bem real, fruto de determinação, trabalho e organização. Mais que ver, pude compartilhar contigo essa conquista. Que outra pessoa confiaria em entregar o carro que acabou de comprar para a amiga dirigir? Senti-me honrada! E nervosa também…rsrs. E logo mais, em meio às cervejas da comemoração, ouvi você me dizer: - confio demais em ti, por isso entreguei meu carro em sua mão. Isso é uma declaração de amizade verdadeira, pois sei todo o contexto e todas as pedras que teve de ultrapassar para chegar até aqui. Sei também que outra pessoa, como seu pai, poderia ter dirigido para você enquanto sua carteira não vem, mas você escolheu a mim!
Andar dirigindo novamente por campina Grande me fez reviver muitas emoções. Essa cidade carrrega minha história mais profunda. Nas ruas, nos supermercados, nas padarias, nos bares, nos hotéis, nas praças, em todo lugar está marcado cada momento que vivi. Pessoas que entraram e já sairam da minha vida, lugares que frequentei e que nem existem mais, ruas que mudaram de sentido para transitar, viaduto que agora existe. Um monte de coisa mudou, menos nossa amizade.


(18.11.2008)