quarta-feira, 24 de novembro de 2010


A pessoa escreve, apaga, escreve, apaga. As palavras não saem como querem sair. Há uma espinha no meio da goela que impede que as coisas venham à tona com forma própria. Quero dizer que estou com medo do próximo inverno. Tenho suado tanto que não sei se estarei preparada para o frio que virá. Esse ano tudo foi tão bom! Assusta-me não saber do futuro. Se for algo ruim? Está tudo tão aprumado...Ou estava, sei lá. Acho que o que aconteceu foi que fui me adaptando a cada contratempo que vivi. Sou meio elástica, contorcionista, mágica. E adoro esse céu roxo de Campina. Hoje seria uma boa noite para ficar na varanda até os passarinhos acordarem. Posso trocar a noite de ontem pela de hoje? Posso ficar com todas as noites? O dia me cansa. O dia é áspero. A noite é bruma leve, é paixão. Continuo com medo, apesar da lua cheia...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sorrisos e Lápis de Olho

Ser e viver como se acredita é ofício para raros. A grande maioria se veste numa couraça envernizada, polida com cera fria. E tome blá-blá-blá sobre amor e liberdade, mas quando o negócio se inverte, quero ver gente se aguentar no próprio discurso. E tome sono! Ah, já senti muito sono em sábados, domingos e no meio da semana. Enquanto isso, nos bastidores, todas as cervejas do mundo continuaram disponíveis, todos os sorrisos foram extravasados e muitas músicas foram cantadas em coro. Sentir amor e querer liberdade é só um pretexto de preguiçoso, porque amar exige tempo, dedicação, atenção e falta de sono. Sem contar, claro, com a falta de liberdade. Pois se a liberdade vai, a liberdade vem. Bem lógico né? Mas tem gente que só quer a própria liberdade e ainda quer o tal amor. É querer demais...Então, dá licença, que não estou com um pingo de sono e vou continuar sorrindo com meu lápis preto no olho.

sábado, 13 de novembro de 2010

Eu vou, na bubuia eu vou...



O dia amanheceu lindo, azul, com passarinhos verdes na minha janela. Coloquei a rede na varanda e me embalei ao som da voz mais doce que conheço. Balanço sincronizado, coisa que só entende quem pode. Não adianta forçar. É natural e leve, como o vento que bagunça nossos cabelos. A cidade está silenciosa. Aqui, só nossas vozes, nossos risos. O mundo lá fora gostaria de estar aqui, nessa paz, nessa certeza.
Aquele abraço pra quem fica!

domingo, 7 de novembro de 2010

"Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira". Manoel de Barros

Acho graça de quem vem aqui, lê o que escrevo e toma isso como verdade. Escrevo para confundir. Digo qualquer coisa que as palavras me proporcionem dizer. Brinco, trocando o sentido das ideias. Não vivo o que escrevo. Vivo na minha imaginação. Faço dela um emaranhado com todas as linhas desse novelo. Não tentem me adivinhar. Minto com cara de verdade. E faço a verdade parecer mentira. Manipulo minhas faces e obtenho o olhar que desejo. Ninguém, ninguém me conhece! Até para quem acha que me conhece: eu faço você achar que me conhece.

Agora, para aliviar a ressaca do domingo, uma poesia minha:

O Tempo

O tempo dissolve cheiros, desmancha beijos, distorce imagens

O tempo esvazia o vinho, devolve a lucidez, imobiliza a saudade

O tempo engana os sabores, derrete o desejo, desencanta o sorriso

O tempo amolece a euforia, resseca a lembrança, entorpece a visão

O tempo recolhe as palavras, adormece as mãos, cala a vontade

O tempo desliga o abraço, desengrena a noite, enferruja a certeza

* * *

Ou seja, a ressaca também some com o tempo...