domingo, 27 de junho de 2010

Omeletes e recordações

Então eu fiz um omelete. Era simples, de carne moida, mas bem recheado. Nem sabia que aquele prato iria trazer recordações a ele. Disse que era a cara da sua infância pobre. Sua mãe sempre fazia omeletes para driblar a falta de comida, com pouco recheio, para muitas bocas. Também a minha infância teve cheiro de omelete. Às vezes de carne moida, às vezes de sardinha, às vezes sem qualquer recheio. Minha mãe também sabia contornar o vazio da despensa e geladeira. E eis que estou aqui, adulta e sigo os passos dela sem nem me dar conta. No dia das mães esse ano fiz omelete. Não foi para lembrar da minha mãe, foi porque só tinha ovos e uma lata de sardinha. Queria ter ido a um restaurante com minha filha mais velha, a que mora comigo, mas não deu. Então, sentamos à mesa e contei a ela que omelete de sardinha é um prato raro e caro, porque sardinhas são peixes difíceis de serem encontrados e cada lata custa uma fortuna, por isso escolhi esse prato para comemorarmos o dia das mães. Ela ria muito entre uma garfada e outra por perceber meu bom humor até nos momentos quando falta tudo. Sei que quando for adulta e sentir cheiro de omelete lembrará de mim, de nós, daquele dia das mães, onde mesmo tendo almoçado algo tão simples, não poupou surpresas para mim. Fez uma caça ao tesouro, em que cada bilhetinho continha a pista para o próximo lugar onde estaria escondido meu presente. Após encontrar os oito bilhetinhos, cada um mais carinhoso que outro, finalmente encontrei meu presente: uma sandália linda, que veio em boa hora, pois estava sem nenhuma. O presente foi uma delicadeza do pai dela, que, pela primeira vez, em doze anos, lembrou que sou a mãe da filha dele. Talvez ele tenha comido omelete também...

3 comentários:

Gabriele Holanda disse...

Pois é mãae isso realmente acontece.E até hoje eu não sei por qual motivo NÓS ainda não melhoramos de vida!As vezes não entendo como uma pessoa que batalha tanto por coisas boas, que melhorem nossa vida não consegue realmente mudar pra uma melhor condição!Sei que apesar de tudo quando crescer vou sim me lembrar de você e dizer que tive a MELHOR mãe do mundo!

Maeg Seixas disse...

Não se assombre não.

Por vezes a vida abre um sorriso desdentado.
Por vezes o sol esquece do fio de ternura de um luar apaixonado.

Não se assombre não.

Por que o disco da mais singela canção arranhou.
Por que o vinho dessa noite despertou os olhos de ressaca da manhã.

Não se assombre não.

Se tudo anda meio desarrumado além do horizonte.
Se o espelho e o batom não brilha hoje tanto assim.

Não se assombre não.

Que a vida lhe diz baixinho, quase em sonho.
Que o vento sussura em cores ao pé do ouvido.
E canção se enovela nos dias e noites melodiando assim:

"Seu dia lindo é você quem compõe. Com sorrisos, música, amigos, amores...
Uma bebida gelada, omeletes e tudo o mais".

(Maeg Seixas)

Augusto e Luciana disse...

Olá Juliana. Tua escrita é maravilhosa. Consegues poetizar a vida com suavidade e bom humor. Deixou-me emocionado. Fez-me lembrar os momentos da mais pura saudade aconchegada, aquelas que mesmo a presença e o abraço forte das filhas amadas não consegue driblar... porque o que se quer mesmo é viver aquela saudade. Teu texto remeteu-me a tantos meus que escrevi sobre filhas, memória e solidão. Pena que eu já não os escreva mais. Beijos.